Preciso falar com todas e todos catarinenses, não importa se concordam ou não com meu partido, minhas ideologias ou pautas do meu mandato. Nós vivemos em uma democracia e é em defesa dela que precisamos nos unir.
Conclamo quem é democrata, quem lutou neste país para acabar com a ditadura militar, quem viu esta nação construir uma Constituição em 1988 e ao longo das décadas seguintes sente na pele o quanto ela ainda é frágil, ao contrário de democracias estabelecidas há séculos nos países que olhamos com admiração e até certa inveja.
Os poderes Legislativo e Judiciário só existem de forma independente e autônoma graças à democracia. E é aqui na tribuna que eu tenho a oportunidade de defender você, professor(a), mulher, agricultor(a) familiar; de me manifestar quando o governo erra em alguma obra, em algum projeto, em alguma decisão.
É aqui que tenho condições de combater as injustiças, as arbitrariedades, de colocar o dedo na cara de alguém que mexe com os direitos do povo. De defender a moradia que tanto nos falta em Santa Catarina; de denunciar que os catarinenses estão morrendo nas nossas rodovias precárias.
Você precisa parar para pensar que se não houver esse espaço, a única voz será a do governante, a do poder Executivo. Não se esqueça da nossa história: Paulo Stuart Wright, meu colega parlamentar catarinense eleito para representar parte da população do nosso estado, foi cassado no período da ditadura no Brasil, seu corpo até hoje nunca foi encontrado.
Então, se você cogita a hipótese de ir para a rua no dia 15 de março, sua atitude declara apoio a todas essas conseqüências que afetarão a sua família, os seus filhos, todos nós, digo com muita dor e indignação.
O Presidente da República jurou cumprir a Constituição, não pode trair o povo brasileiro querendo rasgá-la. Rasgar a Constituição significa rasgar os seus direitos.
Entidades da sociedade civil, OAB, STF, entre outros, estão se manifestando de forma precisa e contundente: fechar o parlamento é acabar com a voz da população, sem parlamento não tem Constituição, não tem direitos assegurados. É isso que está em xeque. Um presidente jamais poderia estimular essa leviandade.
Bolsonaro foi eleito para governar com capacidade. O que se espera dele é competência para resolver os problemas do nosso país: reduzir o desemprego, aumentar o PIB, equilibrar o dólar, baixar o preço da gasolina, enfrentar e combater as milícias, distribuir renda.
O povo catarinense, que elegeu Bolsonaro, precisa agora cobrar pelo seu voto: exigir que o presidente eleito responda pelo desenvolvimento do nosso estado, do nosso país e pare de uma vez por todas com essas cortinas de fumaça para fugir das suas responsabilidades, colocando, ainda, a sociedade a seus mandos.
A democracia não é ir pra rua em si; quando se vai para a rua defender o fechamento das instâncias que representam todas as vozes, temos algo tão contraditório quanto perigoso. Quem vai combater a tirania?
Apesar de estar extremamente preocupada e indignada, me conforta ver a rápida reação da sociedade, que já criou uma frente ampla em defesa da democracia, suprapartidária. E é a ela que todos nós precisamos nos juntar. Estamos conscientes de que as críticas aos Poderes não somente existem, como podem e devem existir – mas não é destruindo-os que vamos alcançar o desenvolvimento do nosso País. Ditadura nunca mais!
Luciane Carminatti
Deputada estadual (PT)
SC-Florianópolis, 26 de fevereiro de 2020.